Sexta-feira, 24 de Fevereiro de 2006
Assunto: Minha Amiga Ana
Amiga:
Conforme minha promessa, estou enviando um e-mail contando as novidades da
minha primeira semana depois de ser transferida pela firma para o Rio de
Janeiro. Terminei hoje de arrumar as coisas no meu novo apartamento. Ficou
uma gracinha, mas estou exausta. São dez da noite e já estou pregada.
Segunda-Feira: Cheguei na firma e já adorei. Entrei no elevador quase no
mesmo instante que o homem mais lindo desse planeta. Ele é loiro, tem
olhos
verdes e o corpo musculoso parece querer arrebentar o terno. Lindooooo!
Estou apaixonada. Olhei disfarçadamente a hora no meu relógio de pulso e
fiz
uma promessa de estar parada defronte ao elevador todos os dias a essa
mesma
hora. Ele desceu no andar da engenharia.
Conheci o pessoal do setor, todos foram atenciosos comigo. Até o meu chefe
foi super delicado. Estou maravilhada com essa cidade.
Cheguei em casa e comi comida enlatada. Amanhã vou a um mercado comprar
alguma coisa.
Terça-Feira: Amiga! Precisava contar. Sabe aquele homem de quem falei? Ele
olhou para mim e sorriu quando entramos no elevador. Fiquei sem ação e
baixei a cabeça. Como sou burra! Passei o dia no trabalho pensando que
preciso fazer um regime. Me olhei no espelho hoje de manhã e estou com uma
barriguinha indiscreta. Fui no mercado e só comprei coisinhas leves:
biscoitos, legumes e chás. Resolvido! Estou de dieta.
Quarta-Feira: Acordei com dor-de-cabeça. Acho que foi a folha de alface ou
o
biscoito do jantar. Preciso manter-me firme na dieta. Quero emagrecer dois
quilos até o fim-de-semana. Ah! O nome dele é Marcelo. Ouvi um amigo dele
falando com ele no elevador. E ainda tem mais: ele desmanchou o noivado há
dois meses e está sozinho. Consegui sorrir para ele quando entrou no
elevador e me cumprimentou. Estou progredindo, né? Como faço para me
insinuar sem parecer vulgar? Comprei um vestido dois números menor que o
meu. Será a minha meta.
Quinta-Feira: O Marcelo me cumprimentou ao entrar no elevador. Seu sorriso
iluminou tudo! Ele me perguntou se eu era a arquiteta que viera
transferida
de Brasília e eu só fiz: "U-hum"... Ele me perguntou se eu estava gostando
do Rio e eu disse: "U-hum". Aí ele perguntou se eu já havia estado antes
aqui e eu disse: "U-hum". Então ele perguntou se eu só sabia falar "U-hum"
e
eu respondi: "Ã-hã". Será que fui muito evasiva? Será que eu deveria ter
falado um pouco mais? Ai, amiga! Estou tão apaixonada! Estou
resolvida!Amanhã vou perguntar se ele não gostaria de me mostrar o Rio de
Janeiro no final de semana. Quanto ao resto, bem... ando com muita
enxaqueca. Acho que vou quebrar meu regime hoje. Estou fazendo uma sopa de
legumes. Espero que não me engorde demais.
Sexta-Feira: Amiga! Estou arruinada! Ontem à noite não resisti e me
empanturrei. Coloquei bastante batata-doce na sopa, além de couve, repolho
e
beterraba. Menina, saí de casa que parecia um caminhão de lixo. Como eu
peidava! (nossa! Você não imagina a minha vergonha de contar isto, mas se
eu
não desabafar, vou me jogar pela janela!).
No metrô, durante o trajeto para o trabalho, bastava um solavanco para eu
soltar um futum que nem eu mesma suportava. Teve um momento em que alguém
dentro do trem gritou: "Aí! Peidar até pode, mas jogar merda em pó dentro
do
vagão é muita sacanagem!"
Uma senhora gorda foi responsabilizada. Todo mundo olhava para ela,
tadinha.
Ela ficou vermelha, ficou amarela, e eu aproveitava cada mudança de cor
para
soltar outro. O meu maior medo era prender e sair um barulhento. Eu estava
morta de vergonha. Desci na estação e parei atrás de uma moça com um bebê
no
colo, enquanto aguardava minha vez de sair pela roleta. Aproveitei e
soltei
mais um. O senhor que estava na frente da mulher com o bebê virou-se para
ela e disse: "Dona! É melhor a senhora jogar esse bebê fora porque ele
está
estragado!". Na entrada do prédio onde trabalho tem uma senhora que vende
bolinhos, café, queijo, essas coisas de camelô. Pois eu ia passando e um
freguês começou a cheirar um pastel, justo na hora em que o futum se
espalhou. O sujeito jogou o pastel no lixo e reclamou: "Pó, dona Maria!
Esse
pastel tá bichado!"
Entrei no prédio resolvida a subir os dezesseis degraus pela escada. Meu
azar foi que o Marcelo ficou segurando a porta, esperando que eu entrasse.
Como não me decidia, ele me puxou pelo braço e apertou o botão do meu
andar.
Já no terceiro andar ficamos sozinhos. Cheguei a me sentir aliviada, pois
assim a viagem terminaria mais rápido. Pensei rápido demais. O elevador
deu
um solavanco e as luzes se apagaram. Quase instantaneamente a iluminação
de
emergência acendeu. Marcelo sorriu (ai, aquele sorriso...) e disse que era
a
bruxa da sexta-feira. Era assim mesmo, logo a luz voltaria, não precisava
se
preocupar. Mal sabia ele que eu estava mesmo preocupada.
Amiga, juro que tentei prender. Mas antes que saísse com estrondo, deixei
escapar. Abaixei e fiquei respirando rápido, tentando aspirar o máximo
possível, como se estivesse me sentindo mal, com falta de ar. Já se
imaginou
numa situação dessas? Peidar e ficar tentando aspirar o peido para que o
homem mais lindo do mundo não perceba que você peidou?
Ele ficou muito preocupado comigo e, se percebeu o mau cheiro, não o
demonstrou. Quando achei que a catinga havia passado, voltei a respirar
normal. Disse para ele que eu era claustrófoba. Mal ele me ajudou a
levantar, eu não consegui prender o segundo, que saiu ainda pior que o
anterior. O coitado dessa vez ficou meio azulado, mas ainda não disse
nada.
Abaixei novamente e fiquei respirando rápido de novo, como uma mulher em
estado de parto. Dessa vez Marcelo ficou afastado, no canto mais distante
de
mim no elevador. Na ânsia de disfarçar, fiquei olhando para a sola dos
meus
sapatos, como se estivesse buscando a origem daquele fedor horroroso. Ele
ficou lá, no canto, impávido. Nem bem o cheiro se esvaiu e veio outro. Ele
se desesperou e começou a apertar a campainha de emergência. Coitado! Ele
esmurrou a porta, gritou, esperneou, e eu lá, na respiração cachorrinho.
Quando a catinga dissipou, ele se acalmou. As lágrimas começaram a
escorrer
pelos meus olhos. Ele me viu chorando, enxugou meus olhos e disse: "Meus
olhos também estão ardendo..." Eu juro que pensei que ele fosse dizer algo
bonito. Aquilo me magoou profundamente. Pensei: "Ah, é, FDP? Então acabou
a
respiração cachorrinho..."
Depois disso, no primeiro ele cobriu o rosto com o paletó. No segundo,
enrolou a cabeça. No terceiro, prendeu a respiração, no quarto, ele ficou
roxo. No quinto, me sacudiu pelos braços e berrou: "Mulher! Pára de se
cagar!". Depois disso ele só chorava. Chorou como um bebê até sermos
resgatados, quatro horas depois. Entrei no escritório e pedi minha
transferência para outro lugar, de preferência outro País.
Apague este e-mail depois de ler, tá?
Sua amiga, Ana.
De Anónimo a 1 de Março de 2006 às 20:21
Mulher, vou te contar..eu ria tanto com a historia que meu marido se sacudia no sofa querendo saber o porque de eu rir tanto..hehehe..e o pior que ele queria que eu traduzisse a historia pra ele..e como achar as expressoes engracadas em noruegues??..hehehe..impossivel..mas que ri muito, ah!! isso eu ri...hahaha..
Beijos para vc e tenha um dia feliz..Kelly Solheim
(http://anoruegabrasileira.blogspot.com/)
(mailto:kelly@tscdata.no)
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